Neste mês de maio celebramos o V aniversário da publicação da Carta Encíclica Laudato Si, do Papa Francisco. Foi lançada no dia 24/05/2015, solenidade de Pentecostes e no ano da XXI Cúpula do Clima. Esta palavra do Papa, carregada da força do Espírito e de bons fundamentos teóricos, marcou ponto importantíssimo no evento sobre o Clima. Teve ampla repercussão, fora e dentro da Igreja. Vem ao encontro da grave crise ecológica que estamos vivendo, em íntima relação com a crise social. No documento se faz a escuta do grito da natureza, da mãe terra e do grito dos pobres. Para o Papa Francisco tudo está interligado e a questão ambiental é inseparável da questão social. Por isso, o Papa fala de uma ecologia integral que inclui as dimensões humanas e sociais. “Os problemas atuais requerem um olhar que leve em conta todos os aspectos da crise mundial.” (137) Papa Francisco faz uma descrição e análise dessa crise socioambiental. Aponta como causas mais radicais o domínio interesseiro das tecnologias e o poder desordenado do homem (antropocentrismo). As tecnologias trazem enormes benefícios para a nossa vida, mas quando são orientadas a um projeto sem valores e de extração ilimitada dos benefícios das coisas e da natureza em vista de lucros maximizados tornam-se destruidoras. O antropocentrismo desordenado consiste na visão do homem como superior a todas as criaturas, autônomo e dominador absoluto o que gera um estilo de vida desordenado. Para isso o Papa convida a um olhar de fé para toda a obra da criação, descobrindo a mensagem de cada criatura na harmonia da criação. Propõe a visão de uma ecologia integral, considerando que tudo está interligado. Oferece algumas linhas de ação, abordando a dimensão política em vários níveis. Convida para uma verdadeira conversão ecológica que compreende o cultivo de uma espiritualidade contemplativa que gera paz e alegria, a opção por um estilo de vida simples e não consumista, processos educativos em vista de novos hábitos, construção de relações fraternas, justas, respeitosas entre todas as criaturas, também os humanos, e com o Deus Trindade.
O documento é profundamente inspirado em São Francisco de Assis, a começar pelo nome Laudato Si´ (Louvado Sejas), expressão do Cântico das Criaturas. Diz o Papa em relação ao seráfico pai: “Acho que é o exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade. (...) Nele se nota até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenho na sociedade e a paz interior.” (LS, 10) Toda a Carta Encíclica é perpassada pela espiritualidade franciscana. Em relação ao Cântico das Criaturas, o Papa comenta: “Neste gracioso cântico, recordava-nos que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços”. (LS,1) Essa oração é referência no belo capítulo do Evangelho da Criação para dizer encontramos o reflexo de Deus em tudo o que existe. Ao dar-se conta disso, o coração deseja adorar o Senhor por todas as suas criaturas e junto com elas. (LS, 87) Ao propor uma educação e espiritualidade ecológicas, Papa Francisco recorda o santo de Assis como modelo para “uma sã relação com a criação como dimensão da conversão integral da pessoa”. (LS, 218) Apela a São Boaventura, mestre franciscano, para convidar a um olhar contemplativo que nos leva a encontrar Deus em todas as coisas: “A contemplação é tanto mais elevada quanto mais a pessoa humana sente em si mesma o efeito da graça divina ou quanto mais sabe reconhecer Deus nas outras criaturas.” (LS, 233) Ao longo de todo o documento podemos perceber a presença da espiritualidade franciscana para inspirar a proposta de verdadeira conversão ecológica que implica atitude de gratidão por todas as criaturas, a consciência de sermos todos irmãos e irmãs, o cultivo de paixão pelo cuidado do mundo.
Frei Nestor Inácio Schwerz OFM
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