“Francisco exortava os irmãos que celebrassem a Páscoa do Senhor continuamente em pobreza de espírito, ou seja, o trânsito desta vida a vida eterna, a passagem deste mundo para o Pai” (LM, VII,9).
Para São Francisco viver a Páscoa, era viver o êxodo, a passagem do homem da escravidão do pecado à liberdade do amor e do bem. Experimentar verdadeiramente o mistério da Páscoa era viver a itinerância, sair pelo mundo sem nada de próprio, como peregrinos anunciando a boa nova do Evangelho, vivendo e experimentando o amor misericordioso de Deus que é Pai e mãe, e passando para o irmão esta vida vivida na esperança e no amor misericordioso de Deus.
Quando refletimos o mistério Pascal à luz da espiritualidade de São Francisco de Assis, percebemos que ele se movimentava com simplicidade dentro da realidade Pascal. Era como se fosse a sua própria casa, uma vez que sua identificação com Cristo Ressuscitado o levava a viver em si mesmo o que era de mais central no destino e no comportamento de Jesus. (Cf. Dicionário Franciscano, p.533).
Por isso, neste tempo pascal, nós que vivemos a espiritualidade franciscana, experimentando a dinâmica do provisório, do minorismo, da itinerância, como peregrinos e forasteiros, queremos viver esta realidade com os mesmos sentimentos de Francisco. Pois, para nós franciscanos celebrar a Páscoa do Senhor, significa celebrar a passagem deste mundo ao mundo do Pai. (Conf. LM 7,9)
Quando lembramos que Páscoa é passagem, lembramos especialmente que Deus está passando em nossa vida, em nossa história, transformando nossas dores em alegria, fazendo-nos passar da morte para vida. Mas Páscoa significa também: nós passando na vida de nosso irmão, de nossa irmã de comunidade, marcando sua vida, sua história.
Por que Páscoa é, sobretudo vida, é esperança, é vida nova, é reconstrução. Páscoa é buscar vencer o ódio, a injustiça, as estruturas de opressão. É essencialmente viver a fraternidade, no sentido real e verdadeiro desta palavra, como fez São Francisco, ele viveu a Páscoa, passou pela vida e transformou-a.
A fraternidade nos ensina que se somos filhos, somos também irmãos, e nesta condição filial nos tornamos vida e esperança na vida daquele que Deus colocou ao nosso lado. Nós que nos tornamos filhos de Deus, sabemos que o fruto da Páscoa de Cristo está na certeza destas palavras: “não somente somos chamados filhos de Deus, mas o somos de fato” (I João 3,1-2).
Refletindo esta realidade Pascal, nos damos conta que Jesus em sua entrega generosa ao Pai, inseriu o homem dentro de uma relação nova com Deus, ou seja, sua própria relação com o Pai. Por isso, Jesus ressuscitado diz: “Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos, e diga-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20,17).
Com esta passagem Jesus nos convida ao testemunho, nos convida a propagar esta boa nova com a nossa vida, vivida em Cristo e na sua mensagem salvífica. Esta Boa Nova que São João apresenta, deveria chegar a todos os corações, porque é lá que Deus quer semear esta certeza: Jesus ressuscitou! Há uma esperança que desponta para nós, com sua ressurreição Cristo venceu a morte, a vida ressurgiu, e o pecado dá lugar à misericórdia.
Com a ressurreição, a vida vence a morte, a mão salvadora do Senhor nos sustenta e assim podemos cantar já agora o cântico dos redimidos, o cântico novo dos ressuscitados, o ALELUIA de quem com Cristo venceu a morte e ressuscitou para uma vida nova neste mesmo Cristo. Por isso, nestes tempos difíceis que vivemos enquanto País e enquanto Província, cada família que sofre e que passa pela nossa vida, merece que semeemos sementes de ressurreição em suas vidas, os mais próximos e também os mais distantes.
Minha irmã e meu irmão, é na partilha que a RESSURREIÇÃO acontece, é vivendo com fidelidade a vida fraterna que viveremos de fato em nossa vida a RESSURREIÇÃO DO SENHOR. Deixemos o ‘vazio do túmulo’ para fazermos a experiência dos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35), fazendo esta experiência vamos perceber que nosso coração arde de alegria cada vez que deixamos Cristo se aproximar, cada vez que ouvimos seus ensinamentos, que partilhamos seus sentimentos e principalmente todas as vezes que partimos o pão e o repartimos com aqueles que mais precisam, especialmente com aqueles que estão ao nosso lado e às vezes não temos um olhar de misericórdia e compaixão.
Nosso carisma nos ajuda a refletir esta realidade Pascal com muita clareza, nos ajuda a entender que com sua ressurreição Jesus esclarece o sentido da nossa paixão, na verdade dá sentido a todos os nossos sacrifícios e renúncias. A ressurreição está acontecendo, não é um acontecimento do passado, é momento presente, é uma dinâmica na vida do cristão. Todas as vezes que somos capazes de abrir o nosso coração para acolher o irmão e testemunhar o amor de Cristo neste momento acontece a RESSURREIÇÃO.
Feliz e Santa Páscoa!
Irmã Virginia Matias Homem
Irmãs Franciscanas Alcantarinas
(franciscanasalcantarinas.org.br)
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