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Foto do escritorFrei Franklin Freitas

Carta do Ministro Geral, Frei Michael Perry, para a festa de São Francisco

ESCUTAR O GRITO DA AMAZÔNIA


Queridos irmãos e irmãs, Deus lhes conceda a sua paz!


Depois que São Francisco converteu-se ao Evangelho, ele tinha como único desejo o de viver e testemunhar o Evangelho no mundo. Nos capítulos XIV até XVII da Regra não Bulada podemos constatar as citações que ele faz do Evangelho nas quais Jesus envia os seus discípulos (cf. Mt 10,1-42; Lc. 9,1-6; 10,1- 20; Mc 6,7-13). O viver, testemunhar e pregar o Evangelho para São Francisco deveria ser sempre em minoridade, pobreza, humildade e submissão à Igreja, sem reter nada para si para restituir tudo ao Senhor (cf. VAIANI. C. Storia e Teologia dell’Esperienza Spirituale di Francesco d’Assisi, p.131). Além disso, quando chegaram os Irmãos que Deus lhe havia dado (cf. Test 14), São Francisco iniciou uma vida de fraternidade que até hoje é a expressão mais contundente do carisma franciscano.


Recentemente, o CPO 2018 retomou o conceito da Fraternidade contemplativa (cf. Quem tem ouvidos escute o que o Espírito diz... aos Frades Menores hoje, 92-105) e fez propostas concretas para viver e atuar como tal em nossa forma de vida lá onde estamos e para sermos abertos às fraternidades internacionais (cf. Idem, 140- 148).


Junto com este apelo da Ordem, todos nos sentimos interpelados pela Exortação Apostólica do Papa Francisco, Evangelii Gaudium, com a afirmação de que “todos têm o direito de receber o Evangelho” e “os cristãos têm o dever de anuncia-lo sem excluir ninguém”(EG 14) e com a citação do mandato missionário de Jesus ao qual a evangelização obedece: “Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado” (EG 19).


É bom recordar que o próprio São Francisco enviou os seus frades “dois a dois” insistindo que anunciassem a paz e a penitência (cf. 1Cel 29). Isto confirma a dimensão missionária do nosso carisma que nos impulsiona a sair em direção aos nossos irmãos e irmãs do mundo inteiro, chegando a eles de um modo especial, pregando com a nossa forma de vida e de ação a favor da reconciliação, da paz, da justiça e do respeito à criação (cf. CCGG 1,2). Tudo isso nos desafia hoje mais que nunca no contexto da crise climática e da crise migratória no qual vivemos, e a Igreja nos convida a não sermos indiferentes.


O Papa Francisco deu uma atenção especial à Igreja na Amazônia internacional e convocou o Sínodo para a Amazônia com o tema: “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e por uma Ecologia integral”. No documento preparatório do Sínodo lemos que “a Amazônia, uma região com rica biodiversidade, é multiétnica, pluricultural e plurirreligiosa, um espelho de toda a humanidade que, em defesa da vida, exige mudanças estruturais e pessoais de todos os seres humanos, dos Estados e da Igreja”. Devemos recordar também que existem cerca de 32 milhões de habitantes na Pan-amazônia (nos 9 países que possuem floresta amazônica) e entre eles estão cerca de 3 milhões de indígenas que formam cerca de 390 povos e nacionalidades diferentes. Estes indígenas nasceram e cresceram em harmonia com a floresta e conservaram este equilíbrio por milhares de anos. “No entanto, a vida na Amazônia está ameaçada pela destruição e exploração ambiental, pela violação sistemática dos direitos humanos elementares da população amazônica” (Instrumentum Laboris, 14).


Nós franciscanos somos chamados a acompanhar com muita atenção este Sínodo que pede que escutemos o grito que sobe da Amazônia (Instrumentum Laboris, 45-46). Queremos trazer aqui os dados inseridos no Documento preparatório do Sínodo: “a bacia amazônica representa para nosso planeta uma das maiores reservas de biodiversidade (30 a 50% da flora e fauna do mundo), de água doce (20% da água doce não congelada de todo o planeta), e possui mais de um terço das florestas primárias do planeta. Também a captação do carbono pela Amazônia é significativa, embora os oceanos sejam os maiores captadores de carbono. São mais de sete milhões e meio de quilômetros quadrados, com nove países que fazem parte deste grande bioma que é a Amazônia (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela, incluindo a Guiana Francesa como território ultramar). Somos chamados, junto com a Igreja, a entrar em um processo de conversão ecológica pessoal e comunitária, pedida pelo Papa Francisco na Encíclica Laudato Si’ (LS 216-221), “permitindo que a força e a luz da graça recebida se estendam também à relação com as outras criaturas e com o mundo que os rodeia, e suscite aquela sublime fraternidade com a criação inteira que viveu, de maneira tão elucidativa, São Francisco de Assis” (LS 221).


A dimensão eclesiológica da evangelização missionária, que é própria de nossa identidade de seguidores de Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitado e de São Francisco de Assis, exige de nós uma abertura de visão sobre a participação dos leigos em todos os aspectos da vida da Igreja. Como nos recorda o Papa Francisco, os leigos não são apenas os assistentes daqueles considerados da “primeira” ou “privilegiada” classe de evangelizadores. Todos os membros da Igreja partilham as mesmas responsabilidades no viver e no proclamar o Evangelho. Por isso, é necessária uma revisão radical no modo com o qual organizamos todos os aspectos da evangelização e como trabalhamos na informação e na formação para uma espiritualidade da ecologia integral. Evangelização e promoção humana e ambiental representam dois lados da mesma moeda: “amor a Deus e amor ao próximo”. Nesta direção nós devemos unir os nossos esforços com aqueles que vivem na área da Amazônia e com todos os outros que vivem em situações semelhantes como modo de encarnar a mensagem de São Francisco de Assis em nossa vida e na vida da Igreja e do mundo de hoje.


Na verdade São Francisco viveu a ecologia integral, mesmo se na Idade Média não se usava esta terminologia. O Papa Francisco fala da ecologia integral incorporando as dimensões humanas e sociais: “ecologia ambiental, econômica e social” (LS 138-142), “ecologia cultural” (LS 143-146) e “ecologia da vida cotidiana” (LS 147-155). Depois relaciona a ecologia integral ao “bem comum” (LS 156-158) que exige uma ética responsável para respeitar os direitos elementares e inalienáveis de todas as pessoas com “um apelo à solidariedade e numa opção preferencial pelos pobres” (LS 158- 162). O estilo de vida de São Francisco que se fez irmão dos leprosos, dos pobres, das criaturas, dos homens e das mulheres de seu tempo, o fez capaz de viver integrado na fraternidade e no mundo.


O grito dos povos da Amazônia atinge diretamente as ações ligadas à ecologia. Todos, porém, precisamos recordar que “para promover uma ecologia integral na vida de todos os dias da Amazônia, é preciso compreender também a noção de justiça e comunicação intergeracional, que inclui a transmissão da experiência ancestral, cosmologias, espiritualidades e teologias dos povos indígenas, em volta do cuidado da Casa Comum” (Instrumentum Laboris, 50). A responsabilidade pela “casa comum” está fundada no amor pelas gerações futuras e “deveria ser um olhar diferente, um pensamento, uma política, um programa educativo” (LS 111).


A todos nós que vivemos distantes da Amazônia chega um apelo importante sobre todas as coisas que provém daquela área. A procura e a extração de ouro dos rios e de outros lugares produzem continuamente destruição e contaminação do ambiente. É bom recordar que este metal tão apreciado é também causa de violência, escravidão, contrabando, assaltos e furtos nos territórios indígenas. O mesmo acontece com a madeira, extraída ilegalmente da floresta, que passa por vias de corrupção e depois chega ao mercado internacional “legalizada”. No silêncio acontece a biopirataria que furta vários produtos e espécies vegetais e animais da natureza junto com os conhecimentos milenares das populações amazônicas. Muitos outros produtos são exportados como comodities cuja produção exige a destruição completa da floresta (cf. Documento preparatório).


Sabemos que a Igreja católica está presente em algumas partes da Amazônia desde a chegada dos europeus colonizadores. Até hoje a Igreja é uma voz profética na Amazônia. Nós queremos expressar um agradecimento especial aos nossos confrades que atualmente vivem e trabalham na Amazônia da Bolívia, do Brasil, da Colômbia, do Equador, do Peru e da Venezuela. Ao mesmo tempo pedimos a todos os confrades de nossa Ordem para que sejam sensíveis ao grito da Amazônia para defender a vida, a dignidade e os direitos dos povos amazônicos e também para ser uma Igreja sempre mais presente, com o rosto amazônico missionário, uma Igreja profética que enfrenta os desafios de hoje (cf. Instrumentum Laboris, Parte III).


Para ver todas as informações publicadas, consultar o site:


Feliz Festa de São Francisco! Paz e Bem!

Roma, 29 setembro de 2019.

Festa dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael



Fr. Michael Anthony Perry, ofm (Min. Gen.)

Fr. Julio César Bunader, ofm (Vig. Gen.)

Fr. Jürgen Neitzert, ofm (Def. Gen.)

Fr. Caoimhín Ó Laoide, ofm (Def. Gen.)

Fr. Ignacio Ceja Jiménez, ofm (Def. Gen.)

Fr. Nicodème Kibuzehose, ofm (Def. Gen.)

Fr. Lino Gregorio Redoblado, ofm (Def. Gen.)

Fr. Ivan Sesar, ofm (Def. Gen.)

Fr. Valmir Ramos, ofm (Def. Gen.)

Fr. Antonio Scabio, ofm (Def. Gen.)

Fr. Giovanni Rinaldi, ofm (Sec. Gen.)

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