Boaventura de Bagnoregio (1218-1274) nasceu na região da Itália Central. Sua família pertence à classe nobre. Seu nome de batismo é João Fidalgo. Os primeiros contatos com a Ordem Franciscana acontecem ainda na infância. Fato que ele mesmo recorda em seus escritos quando se encontrava enfermo: sua mãe recorreu a Francisco, de passagem naquela região. Conta a lenda que Francisco, ao acolher o menino, teria exclamado: “Oh Buona Ventura!” Com isso, teria curado o menino da doença e originado o nome Boaventura. Seu contato com a vida franciscana se mantém, posteriormente, através da convivência e estudo no convento dos frades, situado nas redondezas da sua cidade natal.
Em 1235, o jovem Boaventura, com apenas dezessete anos de idade, já se encontra na conceituada Universidade de Paris, na época, dedicando-se ao Curso de Artes (estudo dos filósofos, especialmente Aristóteles). Destaca-se logo com uma extraordinária “inteligência, memória e bondade”. Nessa época, o fato que talvez muito o tenha influenciado para a entrada na Ordem Franciscana, foi o ingresso do seu mestre de Teologia da Universidade de Paris, Alexandre de Hales, no ano de 1236. Com isso, Boaventura, após alcançar o grau de Mestre de Artes, resolveu ingressar também na Ordem, o que aconteceu no ano de 1243, aos vinte e seis anos de idade.
Em 1257, eleito Ministro Geral (o sétimo sucessor de Francisco), Boaventura conduz a Ordem para a institucionalização. Isso ocorre por forte influência da Igreja hierárquica-institucional. A Igreja quer os frades para o serviço da evangelização (principalmente para a pregação e atendimento espiritual). Mas, isso implica proporcionar aos frades boa preparação intelectual e formativa. Eis o dilema que gera forte conflito no interior da Ordem: como introduzir o estudo científico acadêmico formativo, com estruturação de casas, conventos, bibliotecas, igrejas, sem trair o espírito original de Francisco de Assis? Trata-se da tensão entre a intuição e a instituição. Para Francisco, homem intuitivo, juntamente com os primeiros frades, foi possível viver o ideal da pobreza evangélica de maneira radical. Para Boaventura já não foi assim. Há um novo contexto na Ordem: grande número de frades e o forte apelo da Igreja para o serviço da evangelização. Necessariamente, teve que redimensionar e institucionalizar as grandes intuições de Francisco. Com isso, Boaventura garantiu a unidade da Ordem e salvou os grandes ideais de Francisco, permitindo que estes se perpetuassem ao longo da história.
No ambiente cultural acadêmico, Boaventura destaca-se por sua sabedoria criativa. Inspira-se nas tradições existentes no seu tempo, não deixando de ser original. Destaca-se como Filósofo, Teólogo e Místico. Por isso, ao longo da história, vários Centros de Formação na Ordem são atribuídos em sua Memória. Em nossa Província, temos o Convento São Boaventura em Imigrante – RS, uma casa de Formação muito marcante na História dos Frades Franciscanos do RS.
Sua eminente atuação e santidade, como Ministro Geral da Ordem, Bispo e Cardeal da Igreja, sempre recebeu reconhecimento. Canonizado no ano de 1482, sua Memória, no calendário litúrgico da Igreja, é celebrada no dia 15 de Julho. Apesar de não fazer parte da devoção popular, São Boaventura continua inspirando a caminhada da Igreja em nosso tempo. Recentemente, na significativa e marcante encíclica, Laudato Si, o Papa Francisco recorre à São Boaventura, citando-o várias vezes, para situar a espiritualidade franciscana, como fonte inspiradora do seu documento.
São Boaventura, rogai por nós!
Frei Blásio Kummer, OFM.
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