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A pobreza na Regra Franciscana Primitiva


A Regra primitiva dos frades menores seria a primeira forma de vida que Francisco de Assis manifestou ao Papa Inocêncio III em 1209 que também é conhecida como Propositum vitae.

Francisco inicia sozinho uma forma de vida e não tem a intenção de organizar uma Ordem ou instituição. Ele apenas queria viver radicalmente o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e quando chegam os primeiros irmãos ele alarga o seu horizonte vocacional começando uma forma de vida em fraternidade. Isto o próprio Francisco deixa claro em seu Testamento: “E depois que o Senhor me deu Irmãos, ninguém me mostrou o que deveria fazer, mas o Altíssimo mesmo me revelou que eu deveria viver segundo a forma do santo Evangelho. E eu o fiz escrever com poucas palavras e de modo simples, e o senhor papa mo confirmou” (Test. 14).

Enquanto vivia só, Francisco tinha clareza de sua imitação do Cristo pobre, humilde e crucificado. Em abril de 1208, segundo a maioria dos historiadores, Francisco recebe os primeiros companheiros e algum tempo depois percebe a necessidade de um acordo para que não se perca o espírito norteador. E eis que vão até o papa. É impossível resgatar o conteúdo escrito desta regra apresentada a Inocêncio III, pois não restou nenhum vestígio preciso daquilo que foi apresentado ao papa.

Muitos estudiosos do franciscanismo tentam aproximar-se do conteúdo a partir da vivência dos frades na época. Mesmo não sendo uma regra escrita, certamente, era uma regra rigorosamente vivenciada por Francisco e seus companheiros. Há estudiosos que defendem que, o Propositum Vitae de 1209 seria composto por partes da Regra não Bulada: capítulo primeiro, parte do sétimo e o décimo quarto.

O que sabemos é que esta Regra já tinha como coração o Evangelho e desde os primórdios a questão da pobreza lhe era muito cara. Ela trazia em seu primeiro capítulo, as três frases surgidas na “sortes apostolorum” na igreja de São Nicolau. Este texto retirado do Evangelho de São Mateus faz alusão ao seguimento perfeito e radical a Jesus Cristo. Aqueles que queriam entrar na forma de vida que Francisco iniciara, deveriam desfazer-se de todos os seus bens. O texto também indica que não era um desfazer-se qualquer. Os bens deveriam ser vendidos e doados pobres.

Podemos perceber que desde o início, fazer-se pobre para Francisco, foi algo bastante significativo e inegociável. A pobreza material esteve no cerne do ideal de vida buscado pelos primeiros frades. Francisco intuía que ela era o caminho para a minoridade, algo essencial, na dinâmica da vida fraterna entre irmãos. Neste sentido não estar apegado a bens é um dos primeiros passos em direção à pobreza interior.

Outra perícope evangélica encontrada naquela tríplice abertura do evangelho e inserida na Regra é a citação de Lc 9,3. Neste texto Jesus adverte que os discípulos nada levem pelo caminho durante a missão. Segundo as hagiografias franciscanas Francisco mudou sua maneira de vestir a partir de seu encontro com esta passagem do Evangelho, pois “desata imediatamente o calçado dos pés, depõe o bastão das mãos e, contente com uma só túnica, trocou a correia por um cordão” (Cel 22,5).

A indicação de que o seguimento a Jesus não era nada fácil estava presente através da citação de Mt 16,24 onde Cristo convida, aqueles que querem lhe seguir, a renegar-se a si próprio e tomar a sua cruz. Podemos verificar que na dinâmica de vida sonhada pelos frades, o ideal de pobreza, chega ao ponto de cada um não se pertencer tendo em vista a missão para o Reino de Deus.

Não há como sermos precisos na data em que Francisco escreveu a regra primitiva. Mas, é fato de que uma vida pobre marcou o início da caminhada dos frades e também imbuiu o espírito daqueles que se aproximaram de Francisco para formar a fraternidade dos irmãos penitentes de Assis.

Diante de uma Igreja que ostentava riqueza e indiferença aos mais pobres, Francisco se encontra com o Cristo pobre, humilde e crucificado. Ele mesmo se faz pobre, porque enxerga neste ato a única maneira de ser livre para atender ao chamado que Deus o fez e assim conseguir tornar-se irmão de todos sem nenhuma discriminação.


Frei Franklin Freitas, OFM

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