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Carta dos Franciscanos do Brasil em relação a Amazônia.

“Eu ouvi os clamores do meu povo” (Ex 3,7)


Paz e Bem!


Em nome do Evangelho de Jesus Cristo, ao qual nosso Pai São Francisco consagrou sua vida e missão, nós, Frades Menores do Brasil (OFM), vimos manifestar nossa plena preocupação com os crescentes danos ambientais que têm devastado a Amazônia e, consequentemente, os povos originários deste importante bioma. Entendemos que tal devastação se deva a diversos fatores, mas temos acompanhado com dor e tristeza a postura do poder público diante deste grave problema, especialmente do que diz respeito ao menosprezo de dados científicos que revelam a aceleração do desmatamento, a promoção de atividades econômicas extrativistas e exploratórias e o menosprezo em relação às entidades que lutam e trabalham pela preservação deste pedaço abençoado de nossa Casa Comum. Além dos prejuízos internos, a irresponsabilidade desta postura tem colocado nosso país em descrédito diante da conjuntura mundial, produzindo efeitos diplomáticos danosos a curto, médio e longo prazo.

Sabemos que tal cenário vem sendo construído a partir de ações que contrariam frontalmente os interesses dos mais pobres em favor do benefício de um mercado que visa apenas a concentração do lucro nas mãos de poucos poderosos. Nesta direção caminham a Reforma da Previdência, o corte de verbas na Educação Superior e o desmantelamento das políticas de promoção social e ambiental.

Em 2011, mais uma vez se debruçando sobre a questão do meio ambiente, a Igreja do Brasil propôs a Campanha da Fraternidade cujo hino trazia o verso “Nossa Mãe Terra, Senhor, geme de dor noite e dia”. Esta campanha manifestava de modo profético as dores e danos que vinha sofrendo a vida no planeta. Ao resgatar este apelo de um passado muito recente, desejamos lançar luzes que possam reavivar nossa luta em favor da preservação do planeta. Portanto, em comunhão e impulsionados pela Igreja do Brasil e do mundo, em plena preparação para celebrar o Sínodo da Amazônia, sentimo-nos animados pela certeza de que não estamos a sós neste empenho.

Recordamos também que nossa Igreja no Brasil sempre buscou cultivar uma viva profecia para a construção da justiça e da paz. Assim ocorreu durante o Regime Militar (1964-1985), quando muitos de nossos bispos corajosamente clamaram pela liberdade, pelo diálogo e pelo respeito, colocando-se ao lado dos perseguidos, o que nos inspira a permanecermos firmes no propósito de defesa da justiça e do cuidado com a nossa Casa Comum.

Desta forma, no cenário em que hoje vivemos, mantemos firmes nosso propósito de trabalhar para superar o ódio, a violência e a injustiça, que causam morte e destruição. Com alegria e entusiasmo, reafirmamos nossa total sintonia com o Papa Francisco, que nos apresenta, em sua Carta Encíclica Laudato Si’, a visão franciscana de ver em toda criatura a presença amorosa do Criador. Fundado nesta perspectiva, o Santo Padre apresenta a proposta de uma “Ecologia Integral”, trabalhando a convicção de que “tudo está interligado”, incluindo as dimensões ambientais e sociais.

Imersos na complexa teia tecida pelos fatos do passado e do presente, percebemos que há irmãos consternados e inconformados; outros, calados e confusos; e, muitos outros que, ao recordar todos esses acontecimentos, doam suas melhores forças na busca de um novo horizonte. Com estes últimos, também estamos dispostos a arregaçar as mangas e lutar por um mundo mais justo, solidário e fraterno. Por isso, pedimos as bênçãos e toda a ajuda de Deus, para carregarmos essa cruz, na certeza de que “irá chegar um novo dia”, em que, com a “Amazônia, rincão da aliança, sem os males que geram a cobiça; com o Cristo que tudo renova, haveremos de ver terra nova onde reina a justiça!” (CF 2011).

Fraternalmente, em Cristo, Francisco e Clara.


São Paulo, 01 de setembro de 2019 – Dia Mundial de Oração pelo cuidado da Criação.


Os frades menores da CFMB com seus Serviços de Evangelização e de Justiça, Paz e Integridade da Criação

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