Clara viveu em uma época que o sonho da ascensão perpassava no coração dos jovens. Onde casar-se com um nobre era sonho das jovens de sua época. Mas para Clara era um sonho totalmente ao seu alcance, sem muitos esforços, já que pertencia a uma família rica da aristocracia de Assis. Não lhe faltaria pretendentes de alto relevo entre a nobreza, qui sá um príncipe!
Só que o coração de Clara almejava outros sonhos, outros caminhos. Verdade! mais difícil, mais arduoso, quase impossível. Mas não menos nobre. È aí que podemos dizer que Clara se demonstra como uma mulher nova. Pois desafia o senso comum, as adversidades, enfrenta a própria família e os padrões sociais da época e lança-se em busca de seu sonho. Sonho este que consumia com ardor o seu coração. Não simplesmente o sonho de ser irmã, monja. Mas o sonho de se consagrar ao Senhor, na radicalidade da pobreza, e no seguimento firme ao Crucificado.
Clara redesenha uma nova forma de Vida Religiosa feminina. Onde as irmãs passam a ter seu protagonismo. Pois até então a regra de vida para as Irmãs eram escrita por homens. Eram Eles que ditavam a forma de vida das religiosas, o como viver. E Clara subverte este jeito de vida religiosa. Ela mesma escreve a regra de vida das Irmãs. E mais que isso. Luta até o fim para que a Igreja aprove e acolha este jeito de viver o seguimento do Evangelho. Lembremos que Clara recebeu a notícia da aprovação da regra Pelo Papa Inocêncio IV na véspera de sua morte.
Por 800 anos nos apresentaram Clara como a “plantinha de Francisco”, “a jovem que deixou tudo para seguir Francisco”. Na minha concepção. Hoje devemos apresentar Clara como a Companheira de Francisco, que juntos, ombro a ombro, reconstruíram a Igreja do Senhor que estava em ruínas.
Para mim também o grande diferencial de Clara, e que muito me encanta: foi sua coragem, ousadia, determinação. Sem jamais negar sua identidade de ser mulher. Criando o sadio equilíbrio do masculino de Francisco, com o seu ser feminino. Clara ao buscar esta forma de vida abdicou da nobreza e do luxo. Mas não abdicou de ser mulher, de ser feminina, de pensar como mulher. E isto esta expresso na forma em que escreve a Inês de Praga, no cuidado para com as Irmãs e no relacionamento com Francisco.. Para bem Ilustrar me socorro de um trecho da I Carta a Inês:
Falando de Cristo ela diz a Inês: “Amando-o, és casta, tocando-o, serás mais pura, deixando-se possuir por ele, és virgem. Seu poder é mais forte, sua generosidade, mais elevada, seu aspecto, mais belo, o amor mais suave e toda a graça. Agora tu estás acolhida em seu braço, que ornou teu peito com pedras preciosas.. e te corou com uma coroa de ouro gravada com o selo da santidade”.
Podemos sentir no texto a doçura das palavras, sua feminilidade. Nem por isso perdeu a consistência e a profecia. Então Clara continua ser para nós, mulheres e homens de hoje, modelo e inspiração de força sem perder a sensibilidade, a coragem, sem perder a ternura e na luta sem perder o amor.
Assim como Clara saibamos a cada dia olharmos no espelho e contemplarmos a presença de Deus em nossas irmãs e irmãos. Em toda obra da criação e nos acontecimentos do nosso cotidiano. Aprendamos com Clara a nos inculturar, adaptando-nos as realidade e circunstância da vida. Mas sempre tendo presente nosso ponto de partida.
Frei Orestes Serra, OFM
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