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Domingo de Ramos: “Bendito aquele que vem em nome do Senhor!”

Quase não há comunidade cristã no Brasil que não comemore hoje, com muita alegria, a entrada de Jesus em Jerusalém. São organizadas procissões, o povo abana ramos, se celebram encenações do evento. Pessoas que dificilmente pisam em uma igreja nos domingos comuns, hoje fazem questão de não perder a procissão. Porém, para não reduzirmos a comemoração a mero folclore, é importante estudar o que significava este evento para Jesus, e para o evangelista. Dificulta o entendimento da passagem a nossa pouca familiaridade com o Antigo

Testamento. Cumpre relembrar um trecho do profeta Zacarias: “Dance de alegria, cidade de Sião; grite de alegria, cidade de Jerusalém, pois agora o seu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num jumentinho, filho duma jumenta… Anunciará a paz a todas as nações, e o seu domínio irá de mar a mar, do rio Eufrates até os confins da terra” (Zc 9, 9-10). Esse era um trecho muito importante na espiritualidade dos “pobres de Javé”, que esperavam a chegada do Messias libertador. Nessa esperança situam-se Maria e José e os discípulos de Jesus. Foi dentro desta espiritualidade que Jesus foi criado. Zacarias traçava as características do messias – seria um rei, “justo e pobre”, não de guerra, mas de paz! Viria estabelecer uma sociedade diferente da sociedade opressora do tempo de Zacarias (e de Jesus, e de nós) – onde os poderosos e violentos oprimiam os pobres e pacíficos! Seria uma sociedade onde, entre outros elementos, a economia estaria a serviço da vida, onde todos cuidariam da “casa comum”, o planeta! Um rei jamais entraria em uma cidade montado em um jumento – o animal do pobre camponês, mas num cavalo branco de raça! Jesus, fazendo a sua entrada assim, faz uma releitura de Zacarias, e se identificou com o rei pobre, da paz, da esperança dos pobres e oprimidos! Por isso, muitas vezes perdemos totalmente o sentido da entrada de Jesus em Jerusalém. Celebramos o evento como se fosse a entrada de um governante do Império romano – ou dos impérios dos nossos tempos – com pompa, imponência, e demonstração de poder e força. O contrário do que Jesus fez! Chamamos o evento da “entrada triunfal de Jesus” – e realmente foi, mas como triunfo de Deus, que se encarnou entre nós como Servo! Nada mais longe do sentido original desse evento do que manifestações de poderio e pompa, mesmo – ou especialmente – quando feitas em nome da Igreja e do Evangelho de Jesus! O texto convida a todos nós a revermos as nossas atitudes. Seguimos Jesus – mas será que é o Jesus real, o Jesus de Nazaré, o Jesus rei dos pobres e humildes, o Jesus cumpridor da profecia de Zacarias? Ou inventamos outro Jesus – poderoso nos moldes da nossa sociedade, com força, poder e prestígio, conforme o mundo entende esses termos? Essa semana foi o ponto culminante de toda a vida e missão de Jesus – das suas opções concretas em favor dos oprimidos, do seu desafio à religião oficial que escondia o verdadeiro rosto de Deus, das consequências políticas e econômicas da sua proposta de uma sociedade justa e igualitária, manifestação concreta da chegada do Reino de Deus. Tudo isso levou os poderosos, romanos e judeus, a tramarem a sua morte. É importante lembrar que a paixão e morte de Jesus foram consequência da sua vida – é impossível entender o que significa a Semana Santa sem ligá-la com o resto da vida de Jesus e com a sua proposta para a sociedade e para os seus seguidores. JESUS NÃO MORREU – ELE FOI MORTO PORQUE INCOMODAVA, COMO CONTINUA A INCOMODAR AINDA HOJE OS QUE INSISTEM NUM SISTEMA OPRESSOR QUE É A EXPRESSÃO DO ANTI-REINO, MESMO QUANDO DISFARÇADO COM UM DISCURSO RELIGIOSO, COMO SE FAZIA NO TEMPLO. Um canto usado nas celebrações de hoje nos alerta: “Eles queriam um grande rei, que fosse forte, dominador. E por isso não creram n’Ele e mataram o salvador!” Realmente acreditamos no rei dos pobres e oprimidos, da paz e da solidariedade, da misericórdia e compaixão, ou só fazemos um folclore no Dia de Ramos, bonito, mas totalmente desvinculado da mensagem verídica e profunda do profeta Zacarias e do Evangelho de hoje? Por Pe. Tomaz Hughes SVD (em memória).

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