Abrindo a série de entrevistas com os nossos freis jubilares em 2021 (aqueles que celebram 25/50/60... anos vida religiosa ou presbiteral) trazemos a entrevista com o Frei Sadi Rambo OFM. Ele atualmente é membro da Fraternidade Formativa do Seminário Franciscano São Pascoal e mestre da etapa formativa do Postulantado franciscano. Frei Sadi já trabalhou em várias paróquias franciscanas e também é compositor (já lançou dois cds com músicas religiosas) e foi o compositor do nosso hino vocacional de 2021 (Sol Nascente). Parabéns Frei Sadi pela caminhada e testemunho vocacional ao longo destes 25 como padre em várias frentes de missão onde nós franciscanos atuamos. Paz e Bem!
“A MESSE É GRANDE, MAS OS OPERÁRIOS SÃO POUCOS”
1. Onde você nasceu?
Eu nasci no dia 31 de março de 1966, em Três Passos; família residia no Distrito de Tiradentes, hoje município de Tiradentes do Sul; oitavo filho (5 rapazes e 3 moças). Sou
filho de Laurindo Cacildo Rambo (em memória: 06/01/1993, 67 anos) e Valéria Borger Rambo (em memória: 10/09/2018, 87 anos), residentes em Três Passos. Realizei o Batismo e 1ª Eucaristia na igreja Matriz Nossa Senhora das Graças de Tiradentes pelos freis Leonardo Braun e Ludovico Frelich. O Crisma na igreja Matriz Santa Inês de Três Passos pelo Bispo Dom Bruno Maldanner, de Frederico Westphalen. Em relação aos estudos eu frequentei até a 4ª série na Escola Municipal Alberto Schweitzer, em Lajeado Passo Fundo, Tiradentes do Sul. 5ª a 8ª séries, no Colégio Estadual Érico Veríssimo, em Três Passos; Ensino Médio, na Escola Cenecista Ruy Barbosa, em Três Passos.
2. Como foi o seu chamado vocacional?
Em algum momento do ano de 1983 (semana vocacional), no Colégio Érico Veríssimo, Três Passos, um franciscano me entregou um “santinho vocacional”, com a figura de São Francisco de Assis e a frase: “Senhor, que queres que eu faça?”. Foi esta pergunta que me despertou para a vida franciscana. Um convite! A primeira imagem no espelho da vida! Logo entrei em contato com o Frei Miguel Becker, animador vocacional. Este me acolheu e acompanhou por três anos, com estágios internos, no Seminário São Pascoal e semanas vocacionais, nas comunidades da paróquia Santa Inês. Inverno ou verão, o fusquinha branco era o mesmo, até cheirava gasolina da Argentina. Bons tempos de vocacionado!!!
3. Descreva-nos a sua trajetória vocacional.
Em 1987 fui para o Seráfico, em Taquari: Postulantado, a fim de aprender a conviver fraternalmente e respeitar os limites de cada um. Éramos catorze postulantes e Frei Lotário Neumann como mestre. Que bênção! Em seguida, 1988, noviço em Daltro Filho com mais
cinco colegas e o Frei Aloísio Dilli como mestre. Aos poucos compreendi o significado da minha existência e chamado de Deus. Após esse êxodo, parti para Porto Alegre estudar Filosofia, em Viamão, residindo em Ipanema; depois Vila Herdeiros, na inserção, até o segundo ano de Teologia (ESTEF). PROFISSÃO PERPÉTUA: no dia 27 de março de 1993, na Vila dos Herdeiros, Porto Alegre. Lema: “Eu vim para servir e não para ser servido”(Mt 20,28). Antes do estágio pastoral, passei um ano na Vila Franciscana. DIACONATO: no dia 18 de dezembro de 1994, na igreja Matriz Nossa Senhora das Graças, em Tiradentes do Sul. Lema: “Eu vim para que todos tenham vida e atenham em abundância” (Jo 10,10). Em 1995 fiz o estágio pastoral, na paróquia Santa Inês, como diácono. ORDENAÇÃO PRESBITERAL: no dia 06 de janeiro de 1996, na igreja Matriz Santa Inês de Três Passos. Lema: “A messe é grande, mas os operários são poucos”(Mt 9,37). Ordenante: Dom Bruno Maldanner. 1ª MISSA: no dia 07 de janeiro de 1996, na igreja Matriz Nossa Senhora das Graças, em Tiradentes do Sul. Pregador: Frei Nélson Junges. Em 1998 retornei para Porto Alegre como formador, residindo na Parada 20, Lomba do Pinheiro. A trajetória continua como pároco e/ou formador: Daltro Filho, Agudo, Horizontina, São José do Inhacorá e Alegria, São Cristóvão (Lajeado), Fraternidade Irmão Sol (Estrela) e, atualmente, Seminário São Pascoal (Três passos).
4. Quais os maiores desafios que enfrentou na caminhada?
São 25 anos de presbítero. Jubileu!!! Um olhar no “retrovisor” da vida com um acumulado de experiências e vivências desafiantes. Sentimentos vividos e fatos realizados. Jesus fez o
convite para o seguimento: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia sua cruz e siga-me” (Lc 9,23). “A messe é grande, mas os operários são poucos” (Mt 9,37). São Francisco aceitou o chamado do Senhor. Ele tinha imenso cuidado com a vida em todas as manifestações. Cada pessoa e cada coisa era saudada por ele como irmã e irmão. E eu? Pois é, sair de mim e ir ao encontro do Outro, que é Deus, presente na vida concreta da comunidade-fraternidade, sem dúvida, continua sendo uma “quaresma” para a minha vida. Por isso, aqui vão alguns desafios: saída do berço familiar; entrada na Ordem Franciscana; estudo acadêmico; cultivo de uma visão otimista da vida, das pessoas e da criação; Conselhos Evangélicos; nomeações; bom humor franciscano, na alegria de amar e ser amado por Deus; estar no meio do povo e dos mais pobres. Sei que a vida e a presença no mundo são frutos duma vocação divina. É o Senhor que me indica para onde ir. Por isso, preciso descobrir o sentido da vida na oração e na obra que realizo. Colocar-me sempre a serviço dos outros como operário da messe. Agora, na pandemia do Coronavírus, devo cuidar ainda mais da minha saúde integral e a dos outros, fiel à vocação religiosa e presbiteral. Que desafio! Que Páscoa!!!
5. O que você destacaria do carisma franciscano?
“Escolhidos e enviados a viver o evangelho no mundo”
Francisco de Assis deixa-nos um legado espiritual de ser capaz não apenas de escutar, mas acolher a voz que fala ao coração. Está disponível para ouvir e predispõe-se a percorrer
novos caminhos. Francisco, um jovem apaixonado pela vida, com um jeito alegre de servir a Deus. Canta, faz festa, mas também aprendeu a cuidar das feridas dos leprosos. Liberta-se das coisas do mundo sem abandonar o mundo. Cuida da pessoa com misericórdia e ama as criaturas com espírito fraterno. Tem coragem de dizer SIM, de acolher a vocação de Deus e permanecer fiel até ao fim. O projeto é de Deus, mas a forma de vivê-lo como fraternidade, cabe a nós. Hoje, urge uma espiritualidade encarnada na realidade da vida cotidiana, sem ilusões provisórias. O carisma franciscano está vivo no coração do povo. Vamos testemunhá-lo!
6. Deixe um recado para os jovens vocacionados.
“As pessoas sem imaginação podem ter tido as imprevistas aventuras, podem ter visitado as terras mais estranhas. Mas nada ficou! Uma vida não basta ser vivida, também precisa
ser sonhada” (Mário Quintana). Jovem, degustar a vida e saber sofrer pelas razões certas, é a grande sabedoria humana e divina. Guarde cada minuto para o resto da vida. Sonhe! “Ponha a mente no espelho da eternidade, coloque a alma no esplendor da glória e transforme-se...na imagem da divindade” (Santa Clara – 3Ctln 12-13).“ A Igreja precisa do seu impulso, das suas intuições, da sua fé”. “Os sonhos dos jovens são as estrelas mais luminosas” (Papa Francisco). Jovem, olhe positivamente a vida e acolha a bênção da vocação que vem de Deus. Use a sua sabedoria e seus teclados e visores, nestes cenários virtuais, para discernir o chamado de Jesus para a missão de ser feliz. Você é o presente e o futuro! Coragem e perseverança!
Neste Ano Vocacional, quero agradecer à família e à Província São Francisco de Assis. Obrigado à Igreja pelo ministério presbiteral! Agradeço às tantas pessoas que estiveram dispostas a caminhar comigo como “espelhos” no meu processo vocacional. Recebi mais do que ofereci! Gratos por tudo!
Paz e Bem!
Frei Sadi Rambo, OFM
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