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Foto do escritorFrei Franklin Freitas

Finados: Por que visitar e rezar pelos mortos?

Temos o costume de visitar os túmulos de familiares e amigos no dia de finados, ali fazer uma oração, estar por momentos em sintonia com quem muito amamos no local que o sepultamos, ou então guardamos as cinzas, em caso de cremação, além de colocar intenções nas missas. Cada igreja e denominação religiosa tem seus modos próprios de se manifestar e todos celebram esse dia. Mas, afinal qual o sentido de celebrar o dia de finados?

Inicio a reflexão justamente por Jesus crucificado, morto e ressuscitado, Àquele que é

origem e culminância de nossa fé. Os quatro Evangelistas narram a visita ao túmulo de Jesus (Mateus 28, 3-15; Marcos 16, 5-8; Lucas 24, 4-12 e João 20, 2-18). Com alguns aspectos um pouco distintos, mas em todos há o destaque da visita de mulheres ao túmulo de Jesus. Revela uma devoção, respeito, cuidado para com Jesus morto, sepultado. Elas que são as primeiras testemunhas da ressurreição do Senhor.

Seguindo nos primeiros séculos, há o costume dos cristãos de visitar os túmulos dos mártires e rezar por eles, como também por todos aqueles que um tinham feito parte da comunidade cristã primitiva. Mais tarde somente, no século XIII, oficialmente passou-se a ter um dia dedicado aos fiéis defuntos: 2 de novembro. Tradição que continua até nossos dias.

A expressão túmulo deriva de tumba, uma palavra de origem grega para designar o local do enterro é associada a “monumentum”, termo do latim que podemos traduzir em linguagem simples por monumento, memorial. No túmulo há o memorial, o túmulo não se torna apenas uma construção de pedras, mas um local da recordação da vida, de memórias, de sentimentos.

A palavra memorial nos faz pensar para além do visível, do palpável. Aquele local, monumento tem um significado diferente, há ali algo diferenciado, há recordação de uma história, uma vida. Não qualquer história, mas uma bela e íntima recordação. A muitos ela pode ser semelhante, mas em sua maior profundidade é dada a cada um individualmente experimentar.

Há, no entanto, uma expressão conhecida dita por muitos: “me visitem enquanto eu tiver vivo, depois de morto não adianta”. Esta, no mínimo merece uma reflexão. É bem verdade que a visita em vida é boa, essencial, não devemos esquecer de visitar, ligar, valorizar em vida aqueles e aquelas que amamos, nisto a frase está absolutamente certa.

No entanto, a reflexão vai além: o que compreendemos por vida? A passagem terrena apenas? Tão minúscula e insignificante? Sim, podemos compreende-la assim e nos limitar a isso, mas eu traduziria essa compreensão não como ‘viver’, mas como um simples ‘existir’. Para além, podemos compreender ‘vida’ como graça de Deus recebida e a Deus devolvida, não como um bem pessoal, individualista, mas como Dom de Deus à humanidade. Vida aqui recebe um sentido grandioso, para além da nossa compreensão humana, Vida Eterna.

O encontro junto ao túmulo, profundo, íntimo pode ser para muitos uma experiência tão simplesmente humana, o que já é importante. Através do monumento, daquele monumento recordo os mais significativos momentos de humanidade compartilhada, felizes ou tristes, de glória ou de luta, por muitas vezes acompanhados de perdão e lágrimas, que caem como pérolas visíveis de um amor vivido. E, nas recordações, renovo as forças e o propósito pessoal com minha vida, com minha história, com minhas metas e sonhos.

Quanto mais forte e significativo o encontro se torna quando acompanhado da minha experiência de fé, da vivência pessoal, familiar e comunitária de cristão. O memorial me ajuda celebrar o encontro do Senhor com seus filhos falecidos. O memorial nos faz fortalecer a fé que em Cristo Ressuscitado, a Vida supera a morte.

A experiência do encontro com o túmulo vazio de Jesus inicialmente traz o susto. Indo para além do sentido literal, encontrar-se junto ao túmulo, com fé, nos faz acreditar que a vida

não termina aprisionada àquele local. Ela não acaba limitada a pedras e concretos. Nossa fé e vida não se limitam ao tempo que vivemos neste mundo.

É importante também lembrar da ressurreição de Jesus a partir da passagem de João 20, 19 – 23: os discípulos se encontram reunidos com as portas fechadas por medos dos Judeus. Jesus entra, anuncia-lhes a paz, envia-lhes o espírito. A porta estava fechada, mas Jesus ressuscitado entrou. A Vida Eterna, a Ressurreição ultrapassa portas e paredes, ultrapassa muros e limites humanos, vai muito além de nossa compreensão.

São Francisco de Assis, já no final de sua vida terrena, assim rezava: “Bem-vinda a irmã, a morte corporal, da qual homem algum pode escapar”. Sim, ele chama a morte de irmã. Irmã, porque compreende que ali não está o fim, mas a passagem para a nova vida, Vida Eterna. Através da morte, São Francisco celebra a Vida, a vitória, a força e o amor de Deus para com seus filhos e filhas.

Eis que encontramos sentido no bonito costume de celebrar o dia de finados, colocá-los em nossas intenções, visita-los em seus túmulos, em seus memoriais, incluindo também os entes queridos cremados. Valorizemos esta data e seu profundo significado. E, se não conseguimos também visitar o túmulo de um ente querido, o recordemos em oração. Rezemos por aqueles e aquelas que nos precederam em sua passagem terrena com seu exemplo e suas lutas e que nos precedem na eternidade junto ao senhor.

Concluindo, celebrar o dia de finados nos faça vivenciar três atitudes essenciais: Gratidão pelo testemunho de nossos entes queridos; oração para fortalecer nossa união espiritual com eles e com o Senhor e compromisso com nossa própria vida e o Reino de Deus enquanto por graça do Senhor aqui estivermos. Seja este um dia a fortalecer nosso coração, nossa vida, nossa fé.

Paz e bem!


Frei Rodrigo Cichowicz

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