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O despertar da fé, do amor e da Igreja!

Atualizado: 20 de abr. de 2019

Introdução

Além de uma Vigília noturna, a Igreja soleniza a Páscoa também com uma missa especial celebrada durante o dia.


1. Na Ressurreição nasce a Igreja e sua missão


As leituras da Missa deste dia, levam a Igreja a celebrar não apenas as aparições do Crucificado que aparece como Ressuscitado, mas também a missão dos Apóstolos e a fundação da Igreja universal (católica). Uma Igreja única e una, mas com duas faces que devem andar sempre juntas e inseparáveis: a Igreja do amor e a Igreja ministerial. A Igreja ministerial nada é sem a Igreja do amor. Assim, o discípulo amado, o Apóstolo João, a quem Jesus confia sua Mãe e Maria, na Cruz, realiza de modo feliz esta unidade.

Movida por este amor, a Igreja ministerial e do amor de Pedro, Tiago, João e Paulo, etc. começa a se expandir pela Galiléia, Judéia e Samaria através do anúncio dos Apóstolos, principalmente de Pedro e Paulo, testemunhando por toda a parte “tudo o que aconteceu” a Jesus, principalmente sua Ressurreição (1ª leitura). Fruto desta pregação e deste testemunho era a fé e o perdão dos pecados (Cf. Idem). Por isso, Paulo, exorta os colossenses a se esforçarem para alcançar as coisas do alto, e os coríntios a lançar fora o fermento velho da lei e do farisaísmo (2ª leitura).


2. O pavio que ainda fumegava se reacende


Certamente, de modos diversos, cada vez singulares, esta unidade se realizou também na vida e na morte dos demais Apóstolos, de um modo muito especial, na vida de Pedro. Num dos evangelhos recomendados para a leitura na missa da manhã de Páscoa (Jo 20, 1-9) nos faz ver como protagonistas os três: Maria Madalena, João, o discípulo amado, e Pedro. Os três correm ao sepulcro vazio e atestam que algo surpreendente acontecera. Mas, ainda não podiam compreender que Jesus ressuscitara (Cf. Jo 20, 9). O texto grego faz uso de diversos verbos para dizer “olhar” e “ver”. Maria Madalena “vê que a pedra fora retirada do túmulo”. Para este “ver”, aqui, o grego usa o verbo “blépein” que significa olhar, ver, no sentido de mirar e descobrir alguma coisa que estava escondida. O discípulo amado, o próprio evangelista João, que fala de si como se fosse uma terceira pessoa, corre mais rápido do que Pedro, chega ao sepulcro primeiro. “Ele se inclina e vê as faixas deitadas ali. Todavia não entrou”. “Ver” é aqui, ainda, “blépein”, mirar e ver, simplesmente, a modo de fato, ocorrência. Pedro, porém, entra no sepulcro, e dirige um olhar atento, observa as faixas que envolveram o corpo de Jesus e o pano que cobrira a sua cabeça, enrolado à parte. Para este olhar de Pedro, o grego usa o verbo “theorein”, que significa um olhar atento, contemplativo, observador, que busca, inquire, investiga, procurando ver além do fato. Depois de Pedro, é a vez de o discípulo amado entrar no sepulcro. “Ele viu e creu”, diz o evangelista. Agora, para esse “ver”, o grego usa o verbo ideîn. Do grego, este verbo significa perceber, captar o aspecto (eidos, idea) de alguma coisa, ter a evidência de uma realidade misteriosa, realmente presente, embora oculta aos sentidos e à razão. Aqui estamos no mundo de fé.

A estas alturas do vai e vem ao túmulo, o amor, a fé, a modo de uma brasa do fogo do dia anterior, soterrada pelas cinzas, começa a brilhar e a crepitar no coração das mulheres e dos dois apóstolos, levando-os a buscar o amado e a ter um certo pressentimento de que algo de extraordinário teria acontecido. Mas, eles ainda não tinham chegado a uma compreensão do que seria este algo de extraordinário: “Com efeito, eles ainda não tinham compreendido a Escritura segundo a qual Jesus devia ressuscitar dentre os mortos” (Jo 20, 9). E não podiam mesmo porque no mundo da transcendência antes do conhecimento é preciso que chegue o amor. Ao mistério de Deus o amor ocorre rapidamente e se lança, se precipita, antes mesmo de o conhecimento completar o seu curso. Por isso, só depois da graça do reencontro com a Pessoa amada através das aparições, é que as Escrituras começarão a dar aos discípulos a possibilidade de compreender e interpretar o acontecimento da crucificação e da ressurreição (Cf. 1 Cor. 15, 4; At 2, 24-31; 13, 32-37; Lc 24, 27.44-46). Aqui, isto é, nas realidades que ultrapassam nossos sentidos e nossa razão, vale o princípio: para compreender é preciso primeiro crer e amar. Isso evoca o dito da Escritura que se tornou lema para Santo Agostinho e para todos os pensadores medievais: “Se não creres” (e amares) “não compreendereis” (Is 7,9).


Conclusão


Celebrar a Páscoa significa renovar nosso compromisso batismal de levar adiante a nova criação inaugurada por Cristo. Hoje, este compromisso, além de uma ecologia meramente biológica deve levar-nos a pensar e a dispor-nos ao cuidado e ao cultivo do humano de toda a humanidade (Cf. Laudato Si). Antes de mais nada faz-se necessário despertar em todos a consciência de que “todos somos irmãos” (Campanha da Fraternidade) e de que todos temos “uma origem comum, uma recíproca pertença e um futuro partilhado por todos... Surge assim um grande desafio, cultural, espiritual e educativo que implicará longos processos de regeneração” (LS 202).

Uma regeneração, porém, que precisa passar, necessariamente, por uma rigorosa e sincera “crítica aos ‘mitos’ da modernidade baseados na razão instrumental (individualismo, progresso ilimitado, concorrência, consumismo, mercado sem regras) (LS 210); passar, também, para a necessidade de “recuperar os distintos níveis de equilíbrio ecológico: o interior consigo mesmo, o solidário com os outros, o natural com todos os seres vivos, o espiritual com Deus. A educação ambiental deveria predispor-nos para dar este salto para o MISTÉRIO, do qual uma ética ecológica recebe o seu sentido mais profundo” (LS 210).


Uma abençoada e Feliz Páscoa a todos,

Marcos Aurélio Fernandes e Frei Dorvalino Fassini, ofm

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