Aprendi desde criança que no sonhar ninguém pode nos limitar. É possível questionar os condicionamentos externos, mas prefiro não me prender a isso e sim ir para além deles. Quando reflito sobre meus sonhos, ressalto a importância do conhecimento de si, desde o meu interior, de dentro para fora. O limite aqui descrito não como fim, como barreira, mas como profundidade, direção.
Para saber o limite dos próprios sonhos, o primeiro passo é olhar para si. Não apenas um olhar superficial, mas infinito, sincero e aventureiro. Sim, a maior aventura é viajar dentro de si próprio. Nesta há comédias, romances, dramas, tragédias. Há lutas, conquistas, alegrias, tristezas. E o melhor de tudo, você se identifica o tempo todo com o “filme”. É o autor, personagem principal e telespectador. Não basta ser um, mas os três juntamente. Autor: sou eu responsável por criar meus sonhos. Personagem principal: sou eu responsável por viver meus sonhos. Telespectador: sou eu responsável por vibrar com os próprios sonhos vividos.
Viver na superficialidade não satisfaz, é o mesmo que ir assistir um filme e ficar ao lado de fora da sala de cinema, ir ver um jogo e ficar fora do estádio. É preciso entrar, não simplesmente entrar, mas permitir-se viver e vibrar cada momento com seu significado, não solitariamente, mas interagindo com outros. Meus sonhos interagem, não uso lentes que me permitem ver sozinho, há muita gente a minha volta o tempo todo. Focos diferentes complementam a beleza da paisagem.
Quando olho para meus sonhos, nunca me verei tão somente como “mais um”. Não sou “mais um”, sou único, meus sonhos são únicos e estes formam elos, se somam, sem multiplicam com outros tantos sonhos e sonhadores. Sonhar é uma atitude de participação social, é um relacionar-se. Os sonhos são muito importantes, não só para o “eu” apenas, eles irradiam.
Pelos meus sonhos mais profundos conhecerei meu significado para a humanidade. Desbravar as “trilhas” rumo ao limite desconhecido é verdadeira beleza. Através do mais profundo dos sonhos me conheço verdadeiramente. Quanto mais rumo a profundidade, mais tenho consciência de quem sou.
As trilhas são desconhecidas, podem apresentar surpresas, mas a direção do sonho é visível ao coração. Saber ler a “bússola” dos sonhos para manter o foco é sinal de sabedoria. Sim, trilhas e não caminhos largos, pois quando busco algo intensamente, não posso levar comigo tudo que imagino, gosto e desejo, preciso desapegar-me. Jesus já o expressa: estreita é a porta e apertado o caminho que leva à vida. Continua no mesmo versículo, mostrando que tal decisão é exigente: e poucos são os que o encontram (Mt 7, 14).
O encantador é que assim como o olhar para o horizonte, os sonhos tanto mais avançam quanto mais vou caminhando. É possível sonhar parado? Talvez minimamente sim. Mas belo mesmo é sonhar caminhando e caminhar sonhando. Pequenos passos, pequenos sonhos que se unem, como diz o famoso provérbio africano: Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes, consegue mudanças extraordinários.
Enfim, o limite de meus sonhos cada dia tem avançado um pouco mais, como horizonte que se amplia com sua bela paisagem. Mais ainda se vejo outras tantas pessoas mais sonhando e vivendo seus sonhos, unindo sonhos na busca do bem comum. E como estão seus sonhos? Vamos juntos sonhar? Vamos somar na caminhada? No desafio de aprofundar nossos sonhos, desbravar o limite deles, concluo com a sabedoria do padre Zezinho em uma das suas tantas belas músicas:
o sonho que agente sonha utopia pode ser
o sonho que agente sonha utopia pode ser
Mas quem olha pra mais longe
Mas quem olha pra mais longe
Logo, logo vai saber
Que se o povo inteiro sonha faz a paz acontecer
Que se o povo inteiro sonha faz a paz acontecer
Paz e bem
Frei Rodrigo Cichowicz OFM
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