A cruz é, por excelência, sinal de identificação do cristão. Já no Batismo ele é traçado pelo ministro na fronte de quem recebe este sacramento da iniciação cristã; é como uma marca indelével em sua vida. Jesus Cristo fez da cruz um sinal de salvação, pois nela morreu por amor à humanidade: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15, 13). Com sua ressurreição, o que era sinal de morte tornou-se sinal de vida. Sua Páscoa (morte e ressurreição) venceu as trevas do pecado e fez emergir a luz da imortalidade para os que nele creem.
Há inúmeras formas para externar esse ser cristão. O primeiro deles é ser testemunha de vida cristã autêntica que, em sua forma extrema, pode chegar até ao martírio, ou seja, dar a vida pela causa de Cristo, como fizeram muitos cristãos, através dos séculos. Ainda hoje temos testemunhos de martírio, em partes do mundo, onde pessoas são mortas por professarem a fé cristã. Mas nem todos os que se identificam com o sinal da cruz chegarão ao martírio. Muitas pessoas vivem coerentemente seu cristianismo no dia a dia de sua vida: dentro de suas famílias, de suas comunidades e em meio à sociedade. Isso se manifesta no seu modo de ser, de relacionar-se, de agir, em seu estado de vida e em sua profissão, tomando cada dia a cruz, seguindo o Senhor como discípulos missionários (cf. Mc 8, 34-35).
Pelo mundo afora, vemos inúmeros sinais, onde a cruz está presente. Em nossas igrejas, em lugares públicos, em nossas praças, nossos caminhos, seguidamente nos defrontamos com esse símbolo da identidade cristã. Nossos antepassados (imigrantes) cravavam uma cruz ao chegarem em sua nova terra, como primeiro sinal de identificação cristã. Como é significativo, ainda hoje, observar as pessoas que traçam o sinal da cruz ao passarem na frente de uma igreja; outros usam a cruz em seu peito, em objetos de trabalho e até em tatuagens pelo corpo. Quantos se assinalam com a cruz, qual invocação de bênção, ao iniciarem o dia e qual ação de graças, ao deitarem à noite?! Outros o repetem nos momentos significativos do dia; até os atletas sabem fazê-lo ao se aproximarem do objetivo maior de seu esporte. Como diz o Documento de Aparecida: é uma espiritualidade encarnada na cultura dos simples, mas nem por isso menos espiritual e que não pode ser desprezada (cf. DAp 263).
Reconhecemos como legítima a laicidade do Estado, mas também percebemos a reação imediata do povo cristão e de pessoas de bom senso a atitudes laicistas, como afirmações e comportamentos hostis a qualquer manifestação religiosa, como o desrespeito à presença de símbolos religiosos, cristãos ou não. O que nos faz lembrar intolerantes movimentações contra a presença da cruz em repartições públicas e cenas chocantes de desrespeito a símbolos religiosos em manifestações de rua. Estas pessoas ou grupos desejarão tirar também o Cristo do Corcovado ou mudar o nome dos Estados de São Paulo, de Santa Catarina, do Espírito Santo e, inclusive, de Santa Cruz do Sul? Se a laicidade do Estado é legítima, o laicismo não o é, pois este quer erradicar a religião da vida pública, a todo custo, desrespeitando a alteridade, por vezes até com atitudes radicais e agressivas que contradizem as bandeiras minoritárias que defendem. Esquecem que nosso povo vive e se identifica com uma cultura cristã de séculos, certamente não perfeita, mas que não será mudada com decretos ou atitudes hostis. Com o sinal da cruz, que nos identifica como cristãos, abençoamos a todos.
Dom Frei Aloísio Alberto Dilli - OFM
Bispo da Diocese de Santa Cruz do Sul
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