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“RÓTULO”: ARTE OU ARMA?

Atualizado: 13 de mai. de 2020

Quando vamos ao mercado, olhamos a mercadoria pelo preço, por conhecermos e na dúvida, compramos pela aparência, pelo rótulo. Assim fazem as grandes empresas, nos levam confiar em um produto pela marca, pelo rótulo. Gosto de admirar a criatividade do marketing. Raras são as situações em que conhecemos a origem e o processo do produto adquirido até ser embalado naquele rótulo. Se malsucedidos na compra desqualificamos os produtos com aquele rótulo. Indo para além dos mercados a expressão “rótulo” recebe um segundo sentido, geralmente mais cruel. O hábito de avaliar mercadorias pelo rótulo transfere-se também para pessoas, quando a defendemos ou condenamos pessoas sem as conhecer. Criam-se assim informações vazias de verdadeiro conhecimento, ou até o mais triste, pessoas vazias de verdadeiro sentido e com elas, mentiras e opiniões equivocadas sendo disseminadas. Características disso vemos quando se espalham os chavões, frases

prontas generalizadoras, superficiais e muitas vezes preconceituosas, sobre pessoas, cultura, religião, política, enfim, sobre vidas. Se uma opinião manifestada for do próprio gosto pessoal, o defende, não o sendo, condena-o junto com quem a proferiu, mesmo que pudesse concordar, ao menos em parte com suas ideias, ou então deixar-se provocar em seus pensamentos, ainda que a primeira e superficial impressão não entenda ou não esteja de acordo. Tal ignorante precipitação, em última instância, tornam a ciência relativa e a aparência e opinião pessoal absoluta. “Todos sabem tudo” e ai de quem os questione, uma armadilha perigosa pela intolerância e insegurança que gera. O “professor” já não conhece mais sua área, quem conhece melhor é o “youtuber”. O “médico” não é ouvido quando se fala em saúde, pois o “eletricista” sabe mais sobre o assunto. O “agricultor” já não entende nada de agricultura, quem sabe é o “empresário”. Até o “padre” não entende de religião, quem sabe mesmo é o “artista”. Sim, há exagero nas afirmações, são intencionais para propor à autorreflexão sobre nossos conhecimentos e nossas manifestações. Não se faz aqui juízos de valor entre um e outro profissional, o foco está na necessidade de zelar e respeitar o espaço de cada um na diversidade dos saberes. Quando há proliferação de informações inúteis o rótulo se torna um apego, entendido como “verdade absoluta”, uma arma na língua de quem apenas instintivamente sente-se impulsionado a manifestar opinião, independente do assunto, sem antes buscar fontes credíveis para conhecer, aprofundar. “Se eu disse que é, é assim”, já está decidido, e pior que isso: “não quero te ouvir, tua opinião não me interessa”. Tudo isso tem gerado muita confusão e há quem se aproveita disso, se não nos cuidamos também acabamos espalhando confusão e desinformação. Cabe-nos buscar o conhecimento verdadeiro dos fatos ao invés de propagar correntes de mentiras (maldade, pecado), traduzidas carinhosamente por “fake”. Somos privilegiados por viver tempos da democratização da informação, todos podemos participar de belos debates e contribuir com nossas ideias e pontos de vista em redes sociais de modo especial, para tal precisamos ser prudentes, sensatos e empáticos antes de usá-la. Mas tenhamos sempre atenção: rótulos, foram feitos para identificar artisticamente coisas, mercadorias e não pessoas, povos, vidas. A opinião manifestada ou compartilhada de modo superficial e imprudente, mesmo que por vezes ingênua, pode ser uma arma perigosa. Não tenho a pretensão aqui, como defendi acima, de me colocar como “dono da verdade”, mas como alguém que procura pensar a vida a partir da fé, a vida a partir de Deus, que nos criou como irmãos, que não se aniquilem e dispersem, mas que se amam, se somam para fazer o bem, no desejo que assim o vivamos.

Frei Rodrigo André Cichowicz OFM

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