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São Francisco: da cruz de São Damião brota uma evangelização acolhedora, simples e itinerante

É muito significativa a experiência de São Francisco no encontro com a Cruz de São Damião, quando escuta o apelo do Crucificado: “Francisco, não vês que minha casa está destruída? Vai, portanto, e restaura-a para mim” (LTC 13,7). A cruz questiona o poverello com uma pergunta e logo lhe dá um mandato de reconstruir a casa de Deus. Francisco entra na experiência de Deus e sai com esta experiência com Cristo para a evangelização no mundo. Por isso é na realização de reconstruir a casa, que acontece a evangelização franciscana.

O modo de perceber a missão e a evangelização, no chamado de São Damião, acontece num processo de aprofundamento. Primeiramente foi reconstruir a Igreja de pedras, que estava em ruínas. Francisco reconstruiu as Igrejas de São Damião e de Nossa Senhora dos Anjos (Porciúncula). O poverello percebe que a evangelização vai além de reconstruir a Igreja de pedras e num segundo momento começa a reconstruir as pedras vivas, que são os seres humanos. Faz a passagem de reconstruir a Igreja de pedras para reconstruir a Igreja doméstica, ou seja, a Igreja das pessoas (que são filhos(as) amados (as) por Deus).

O projeto de vida de Francisco é vivido através de uma Igreja acolhedora e inclusiva. O ser acolhedor passa pela dimensão da minoridade, ou seja, não se apropriar de coisas ou pessoas. Entre irmãos que querem ser maiores não existe acolhida. Também, a Igreja acolhedora e inclusiva vai ao encontro das classes mais baixas da sociedade, ou seja, entre os seres humanos “pobres, fracos, enfermos, leprosos e os que mendigam pela rua” (RnB IX,2). Uma Igreja que vai além das paredes de pedras, que sabe acolher e transformar os corações dos seres humanos. Dessa maneira, uma eclesiologia não baseada em pirâmide (com ordens sociais), mas eclesiologia circular. Uma eclesiologia que não tem relação com o poder e sim um sentido verdadeiro de entrega total a Deus e a serviços dos irmãos e irmãs.

Uma evangelização que não está apenas baseada em palavras, discursos e sermões, porém, uma evangelização que acontece através do testemunho de vida. A palavra proferida ao povo, precisa virar vida autêntica. Nos testemunhos dos agentes de evangelização, precisa aparecer uma Igreja de portas abertas, uma “Igreja em saída” com os seguintes valores: o amor ao próximo, a solidariedade, a paz, o cuidado com a Casa Comum, a fraternidade, a vida de oração e devoção, cuidado com os enfermos, a misericórdia e opção pelos mais fracos e necessitados da sociedade.

A consequência é uma Igreja que vai de São Damião para a Porciúncula com as qualidades de uma Igreja itinerante e missionária. Os frades não se apropriam nem mesmo do lugar aonde moram, vivem como peregrinos e forasteiros neste mundo. No exemplo da evangelização e inclusão dos ladrões (LP 90), mostram o quanto é ressaltado o aspecto da itinerância, com criatividade e ousadia dos frades.

A evangelização franciscana acontece através do anúncio e do testemunho da paz. Com essa perspectiva os frades são enviados para a missão no meio dos sarracenos e outros infiéis (RnB XVI). Numa postura de simplicidade, humildade e de fraternidade universal acontece o diálogo com o diferente. Neste diálogo evangelizamos e somos evangelizados.

Francisco é uma grande estrela para a evangelização, na Igreja de ontem, de hoje (com o Papa Francisco) e continuará sendo amanhã. Francisco nobre, nobre não pelo ouro e a prata, porém nobre no estilo e na nova maneira de evangelizar.


Frei Tiago Roberto Frey, OFM*



*(Trecho do artigo: "O CHAMADO DA CRUZ DE SÃO DAMIÃO: uma contribuição para a renovação da Igreja)



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